Com o Windows 10, será que vamos finalmente falar com nossos computadores?

Além do fato de ser grátis e poder vir no futuro com um “óculos de realidade holográfica”, uma das grandes novidades do Windows 10 é a profunda integração com a Cortana, a interface que aceita comandos por voz da Microsoft. Como a Siri do iPhone ou o Google Now que está em aparelhos com Android, a Cortana é interessante não apenas por aceitar comandos, mas por responder a uma grande variedade de perguntas em “linguagem natural”, como falamos.
Imagina apenas abrir a tampa do notebook e dizer “Cortana, escreva um email para fulano. Assunto: reunião. Mensagem: blablabla”. Na demonstração, pareceu funcionar. A pergunta “eu vou precisar de uma capa de chuva amanhã?” também trouxe uma resposta natural, com a previsão do tempo dos próximos dias. Conversando é possível fazer buscas na internet, ver “apenas fotos tiradas em dezembro”, ou os últimos resultados do seu time. A Cortana quer ser exatamente o que entendemos por “assistente pessoal”, e isso envolve não apenas responder às nossas necessidades mas nos lembrar do que esquecemos, como as reuniões do dia.
Ou seja: é exatamente o que pretende ser o Google Now. A diferença é que o Now vive no nosso bolso – nos acompanhando e ganhando mais “pistas” de quem somos do que qualquer PC que fica no escritório. Potencialmente, um assistente pessoal que está sempre ao nosso alcance é mais útil. 
Isso não quer dizer que a Cortana no computador seja algo que não terá sentido. Na verdade, acessá-la por voz é só uma das maneiras de usar suas funcionalidades – um pouco como o Spotlight da última versão do Mac OS. Se você não se sente confortável em conversar com uma não-pessoa, pode abrir o botão da busca e digitar “mande email para”, o que é mais rápido tanto do que falar quanto abrir o programa do email e digitar o destinatário. É um avanço, e é ótimo que a Microsoft faça isso chegar a mais gente. Se funcionar como apresentado e vier com uma boa campanha de “reeducação” do público, ele salvará preciosos segundos das nossas vidas. 
Para mim, o que a Microsoft quer com a Cortana, no fundo, é um retorno à ideia de “linha de comando”, da pré-história da computação. Ao invés de irmos dentro de aplicativos, pastas, ou caixa de endereço do navegador para começar a fazer o que queremos fazer no computador, digitamos qualquer coisa em uma única caixa. É exatamente como eu uso o meu MacBook, com o Alfred (a primeira coisa que instalo no computador), há alguns anos. 
O problema das soluções que temos agora (se procurarmos, em programas como Alfred ou distribuições de Linux) é que elas ainda requerem um certo vocabulário próprio. Hoje, por exemplo, se estou digitando um texto e quero saber quanto custa uma coisa em reais (a partir do preço em dólares), aperto ⌘+espaço e digito “convert XXX” (o XXX é o preço), e o resultado já vai para a minha área de transferência – só apertar ctrl+v no texto e tenho o valor certo digitado. É uma mão na roda. Mas se eu digitar “converter”, “converta” ou “quanto é XX em reais” o computador não sabe o que fazer. Ou seja: apesar de prática, a funcionalidade exige que a gente aprenda mais comandos, o que não é nada atraente.
Os assistentes pessoas, falados ou digitados, estão tentando mudar isso. A Cortana, o Now e a Siri (que deve ir para o Mac em algum momento) pretendem eliminar a necessidade de comandos específicos e aplicar a forma com que nós humanos falamos, com todas as variações possíveis. O fato de “vai chover amanhã?”, “como será o dia no domingo?” ou “vou precisar de um casaco para ir ao parque?” trazerem a mesma resposta é um feito da tecnologia. 
Mas é preciso que o vocabulário aumente. Escrever email, dar resultados do time ou falar sobre o clima são legais, mas não são assim incríveis. O que as empresas parecem estar buscando é o que a Apple propôs nesse vídeo futurista de 1987: 
Será que chegaremos a esse nível? E, importante: será que a gente vai usar isso quando puder? A tecnologia tanto de reconhecimento de voz quanto de “repertório” de respostas já avançou significativamente desde que a Siri foi apresentada no fim de 2011. Mas eu tenho a impressão – e isso é algo absolutamente de observação, sem base científica – que as pessoas têm alguma resistência à ideia de falar com o computador, assim como o fone por Bluetooth, apesar de prático, não se massificou porque as pessoas parecem meio idiotas “falando sozinhas”. Para vencer essa barreira social, é preciso que a tecnologia avance bem mais. E as três grandes parecem firmes em perseguir essa visão.
Que ainda demora um pouquinho para chegar em sua plenitude. A última versão de testes do Windows 10 que foi liberada ontem trouxe várias novidades, mas a Cortana ainda está limitadíssima – e só fala inglês. Quando esse futuro chegar, de todo modo, em que cenários vocês se vêem conversando com uma inteligência artificial? Além da voz de Scarlett Johansson, o que faria vocês falarem mais com o PC?

VI NO SITE DO YAHOO BRASIL - por PEDRO BURGOS

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